Em 24/09/2017 às 12h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22

Vítimas de preconceito, transexuais de Leopoldina pedem respeito e igualdade

Maycon, Agatha, Rebeca e Roberta falam do preconceito que ainda persegue os transexuais em Leopoldina

Maycon, Agatha, Rebeca e Roberta falam do preconceito que ainda persegue os transexuais em Leopoldina

Download
Até que ponto pode chegar o preconceito em relação a outra pessoa pela sua identidade de gênero? A discriminação está presente no dia a dia da vizinha cidade de Leopoldina. Quem atesta são quatro transexuais daquele município, que contam suas experiências, entre elas, serem impedida de entrar em banheiro feminino, não serem contratadas devido à sua identidade de gênero, serem revistadas por seguranças durante eventos de forma desagradável ou quando percebem que pessoas mudam de calçada quando as avistam.

imageEstas são algumas das situações vividas pelas transexuais Rebeca, Agatha, Roberta, e Maycon (foto), todas de Leopoldina. Em entrevista concedida ao jornal O Vigilante Online, elas relataram detalhes sobre os preconceitos que ocorrem na vida da maioria dos homossexuais brasileiros.  Roberta Braga Lima, 33 anos, exportadora, reside na Espanha e de seis em seis meses está em Leopoldina, onde vivem seus familiares. Ela conta que na Europa não existe nenhum tipo de preconceito. "Você é bem recebida em qualquer loja. Aqui, quando passam dois homens de mãos dadas eles estão sujeitos a serem agredidos. Lá fora, um respeita o outro, é aquele lado ‘família’ que não vejo aqui no Brasil", afirmou.
Ela também acrescenta que tem o direito de ser revistada por mulheres e usar o banheiro feminino, "a não ser que tenha banheiro específico para o terceiro sexo". Ela ressalta que em Leopoldina não encontrou este banheiro diferenciado em nenhum evento. "Eu não vou entrar num banheiro de homem usando calcinha. Particularmente eu considero que é uma implicância dos seguranças na parte feminina, porque eu nunca tive problemas com os seguranças masculinos, mas com mulheres sempre acontece", desabafou.

A transexual acredita que em relação a este problema, os responsáveis pela segurança deveriam conhecer as leis, estudarem antes de trabalhar com isso, "porque nós temos o direito de usar o banheiro feminino. Se existir um banheiro para o terceiro sexo, nós somos obrigados a usá-lo, mas como em Leopoldina nunca houve esse banheiro, preferimos usar o feminino. No Brasil eles existem em vários lugares, como nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro", informou, acrescentando que estes banheiros são identificados como banheiros de gênero.

Ela também conta que há locais onde os banheiros masculinos não aceitam as lésbicas masculinas que já operaram os seios, que têm a feição masculina, mas possuem a genital feminina. "Em Leopoldina isto também acontece. Eu, particularmente, nunca fui proibida e espero que não aconteça porque eu posso, inclusive, chamar a polícia na hora", observou. Ainda segundo ela, em sua cidade muitas pessoas podem passar pelo mesmo problema que elas enfrentam. "São mais de cem pessoas que estão em processo de transformação. Nós temos que exigir nossos direitos", afirmou.
 Rebeca Vargas, 31 anos, biomédica, trabalha na Casa de Caridade Leopoldinense. Perguntada se sua identidade de gênero lhe prejudica ela afirmou que no seu dia a dia não acontece. "Sou muito conhecida na cidade, lido com a população", declarou.

Sobre o comportamento preconceituoso das pessoas em relação a ela, Rebeca revelou que é algo que a ofende muito quando acontece "Nós pagamos nossos impostos, contribuímos com a cidade e, apesar disso, uma pequena minoria ainda martela na questão do preconceito", diz, reconhecendo que essa parcela da sociedade já foi maior. Sobre seu trabalho na Casa de Caridade Leopoldinense, Rebeca disse que quando foi contratada não sentiu nenhum preconceito por parte da instituição devido a seu gênero. "Trabalho no hospital há quatro anos e sempre fui bem tratada desde a época que fiz o meu estágio. Tanto que recebi o convite para fazer parte da equipe e estou lá até hoje", contou.

 Agatha Moraes, 24 anos, cabeleireira no Rio de Janeiro, relatou que há três anos foi proibida de entrar em um banheiro feminino em Leopoldina. Em relação ao preconceito profissional, ela revelou que já sofreu pelo fato de não conseguir trabalho. "O mercado de trabalho fechou as portas pra mim aqui em Leopoldina, devido a minha identidade de gênero", afirmou. Segundo ela, no Rio de Janeiro tem uma rotina de vida e de trabalho. "Então eu não vejo este preconceito, mas o Rio é tranqüilo sobre isto. Já fora de lá, a gente vê muitas reportagens negativas, mas graças a Deus comigo não acontece esse tipo de coisa", afirmou.

Maycon Chalffonds, 24 anos, trabalha como balconista em Leopoldina. Referindo-se ao tratamento dado por alguns seguranças de eventos às pessoas da comunidade LGBT de Leopoldina, ele afirma não sentir preconceito. "Deveres e direitos todos têm, só que na hora de proclamar os nossos direitos todo mundo foge. O preço é o mesmo, tenho que pagar do mesmo jeito. Eu acho que tem que haver um pouco mais de tolerância porque as pessoas não querem saber de respeitar o outro", disse.

Antes de se tornar balconista, Maycon já exerceu outras profissões e acredita que teve sorte. "Já entrei transgênero na APA Confecções e foi trabalhando lá que me transformei em garoto. O meu processo foi diferente, não sofri tanto preconceito. Mas aqui em Leopoldina está faltando a parada gay, para orientar mais as pessoas. O evento não é só um carnaval como muitos pensam. A parada gay reúne vários eventos durante a semana, falando sobre saúde, identidade de gênero, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, o que é muito importante. A maioria das pessoas associa a parada gay com orgia e não é isso. São palestras, e programações que os heterossexuais também podem participar, até mesmo para poder se orientar. São os chamados simpatizantes", esclareceu.

Discriminação é crime

imageProcurada pelo jornal O Vigilante Online para comentar sobre disciminação e preconceitos enfrentados pelos transgêneros, a Delegada Titular da Delegacia de Mulheres de Leopoldina, Gisela Borges de Mattos (foto), da 3ª Delegacia Regional de Polícia Civil, esclareceu que a legislação, especificamente ao que se refere aos transexuais, não tem nada diferente e palpável em relação a qualquer outro cidadão. "A mesma lei vale para todos, inclusive para o transexual. Se ele for discriminado, ofendido moralmente, terá sim vez perante a Justiça, uma vez que esse tipo de procedimento, esse tipo de ato, configura crime. Nós não temos especificamente uma legislação própria para tratar desse assunto, mas o transgênero tem uma identidade pessoal que é tratada nos tribunais com muita seriedade quando debatem a matéria", explicou a Delegada.

Ela acrescentou ainda que "embora não haja uma legislação específica, a lei é muito ampla no sentido de proteger a identidade física e psicológica da pessoa, no sentido de caracterizar como crime uma ofensa, caracterizar como crime muitos atos de preconceito e também na esfera cível, caracterizar como ato ilícito qualquer tipo de preconceito ou ofensa que venha atingir o transgênero, como qualquer cidadão, como qualquer ser humano", concluiu.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Fonte: O Vigilante Online

Tags: Leopoldina, transexuais, preconceito, identidade de gênero, direitos





Todos os direitos reservados a Marcelo Lopes - www.marcelolopes.jor.br
Proibida cópia de conteúdo e imagens sem prévia autorização!
  • Faça Parte!

desenvolvido por: